sábado, 1 de dezembro de 2012

GP da França 1999: A fuga da Igreja



Por Guto Mauad:


Em um domingo ensolarado, acordei muitíssimo animado para assistir ao Grand Prix du France de F1, o ano era 1999 e esse papa automobilístico, que na época era no máximo um coroinha dos kartista do Armageddon, se preparava para acompanhar mais uma corrida, atividade normal desde 1994 para esse pobre e indefeso garoto.

Apesar do título desse diário nos levar a conclusão de que o “causo” se passa na França, a derrocada toda ocorreu no Brasil,em Sorocaba, o que não torna a crônica menos interessante.

Como todos os domingos, eu havia acordado 30 minutos antes da largada, era um ritual onde eu preparava meu computador com os tempos dos pilotos, previsão de paradas, entre outras coisas, mas naquele fatídico dia, fui surpreendido com uma notícia que saiu da boca de minha mãe feito uma bomba nuclear em meu domingo, “Guto, temos que ir para a missa”, ao indagar a dona da pensão sobre o porque não poderia faltar à gloriosa cerimônia religiosa, fui surpreendido com mais um daqueles mísseis que não citarei o nome “o padre montou um esquema novo para controlar as faltas dos catequisandos, após o término da missa, cada infeliz criança receberia uma figurinha do padre, após o término do ano, deveríamos mostrar as figurinhas ao líder religioso, comprovando assim nossa frequência em suas maravilhosas missas (sem ironia meus caros!).

Sem opção me dirigi até a Igreja sabendo que não havia saída, muitos de vocês poderão falar que fiz uma tempestade em um copo d’água, mas o detalhe que omiti até então é que o pole position da prova dos comedores de croissant, era simplesmente o rei da pachecada da época, Rubens Barrichello, e para delírio dos pachecos de plantão, o cara corria com um carro meia boca, o Stewart-Ford, a pole veio devido a mudanças no tempo durante a classificação, mas Galvão jamais explicou isso para a pachecagem.

Voltemos nosso foco para a Igreja, a largada já havia sido dada, eu sabia que aquele era o fim do meu domingo, cada minuto que passava, minha raiva aumentava,e a vontade de gritar para a igreja toda ouvir que era um absurdo obrigar-me a estar lá,aumentava, comecei a olhar para os lados, e foi nesse momento que senti que minha sorte voltara. Eu tenho dois primos, gêmeos univitelinos, eles chegaram atrasados para a missa e logo que os avistei, tracei meu plano de mestre, eu finalmente passaria o padre para trás.

A ideia era simples, caras idênticas, os ajudantes do padre sabiam dessa peculiaridade, então se um dos caras iguais passasse duas vezes na fila das figurinhas, ninguém ia notar que a regra do padre seria burlada. Minutos depois eu já havia trocado de lugar e alcançara meus salvadores da pátria, só faltava convencê-los a realizar o plano.

Após alguns minutos de insistência, os meninões aceitaram participar da fraude que talvez me levasse a arder no mármore do inferno, já haviam passados 40 minutos de prova e Rubinho ainda era o líder da corrida!Ufa!

Não me lembro mais como acabou aquele GP, meus pachecos, mas a corrida chegara ao seu final,e eu sorrateiramente entrei na igreja, vi os inocentes primos, que só toparam realizar o plano pois temiam uma represália do ente mais velho, coletando as valiosas figurinhas e logo após receber o prêmio da fraude,  fui cumprimentar o glorioso funcionário da fé em Deus na Terra.

Mas o maior prêmio daquela manhã além de ver o evento francês, foi receber o tapinha nas costas, dado pelo padre, me parabenizando pelo bom comportamento que tive durante a missa, isso sim foi o golpe final que apliquei em alguém que tentou quebrar um ritual que se repete desde os tenros momentos de minha vida, o de nunca perder uma prova de F1, desde 1999, fora o padre, saibam que ninguém nunca mais chegou perto de me impedir de assistir uma corrida da maior categoria de autos do mundo!

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